terça-feira, 12 de abril de 2011

pensamentos pedagogicos parte 3

Acreditamos que não existe, literalmente, uma pedagogia “piagetiana”, visto que Piaget não se ocupou diretamente disso, porém, afirmamos que suas descobertas são tão relevantes para a educação, que legitimam um método pedagógico que assim pode ser denominado. Aqueles que quiserem  conhecer um pouco das preocupações pedagógicas do próprio Piaget, devem recorrer ao seu belíssimo livro em forma de ensaio, Para Onde Vai a Educação ? (Piaget,1998)
Lauro de Oliveira Lima permanece fiel às descobertas do mestre, mas ao mesmo tempo, o ultrapassa, no que diz respeito aos domínios da Pedagogia. Piaget nunca se denominou como Educador. O próprio Piaget diz, “é como experimentador e não como praticante que gostaríamos de falar aqui de pedagogia.”(Piaget;1994:245). Porém, num grande paradoxo, a sua explicação sobre o desenvolvimento da inteligência na criança é essencial para sustentar uma atuação consciente dos educadores. A descoberta dos estágios do desenvolvimento intelectual (Piaget;1978) é um marco histórico na educação. Sua contribuição foi fundamental para que se começasse a delinear um embasamento científico para a pedagogia. Piaget é responsável por uma das mais completas e complexas explicações sobre a psicologia da criança; pontuou a escalada da gênese da inteligência no ser humano.
O professor Lauro de Oliveira Lima, a partir de Piaget, cria um modelo pedagógico denominado método Psicogenético. Estes princípios pedagógicos foram desenvolvidos em longos anos de pesquisa na escolinha Chave do Tamanho. Gostaríamos de pensar as concepções de Lima consideradas, segundo o viés da perspectiva crítica da Educação. Acreditamos que esta pedagogia, sendo ou não seu propósito, incentiva a evolução e transformação das relações sociais.
Considerando os pensamentos de Piaget sobre Para Onde Vai a Educação (Piaget,1998), entendemos que a impulsão criteriosa do desenvolvimento de todas as potencialidades que permitem a transformação, de cada um e do mundo que nos cerca, chama-se Pedagogia. Esta definição nos parece extremamente crítica, já que nessa época o ideal de educação para todos, de educação para as massas considerava que educar era somente ensinar a ler e a contar. Precisamos lembrar que, antes de tudo, essa vontade de “educar” as massas não era ato de benevolência das elites, mas sim uma exigência do sistema produtivo capitalista. Também não podemos esquecer que desenvolver a leitura e o cálculo é muito pouco perante ao objetivo da educação piagetiana : “desenvolver todas as potencialidades”.
Estudando-se Piaget, aos poucos, revela-se sua perspectiva política. Lembremos Henry Giroux, autor com o qual muito nos identificamos politicamente. É importante ressaltar sua definição crítica de pedagogia, pois esta definição será um referêncial para nosso trabalho:


“ A pedagogia, em seu sentido mais crítico, ilumina a relação entre conhecimento autoridade e poder(...)Ela chama atenção para as formas pelos quais o conhecimento, o poder, o desejo e a experiência são produzidos sob condições básicas e específicas de aprendizagem.” (Giroux;1995:138).


Precisamos nos situar na pedagogia, demonstrar nosso posicionamento político, pois acreditamos que o engajamento é uma atitude saudável e necessária à transformação das desigualdades sociais. Porém, abominamos o convencimento unilateral, a doutrinação ideológica, o fanatismo de qualquer espécie. Queremos viabilizar novas opções, então não deixaremos de criticar esse velho modelo educacional praticado na maioria das escolas, aquele que, de um modo geral, apenas condiciona, não incentivando o verdadeiro desenvolvimento da inteligência. Esse sistema escolar parece  reproduzir a dominação e a submissão, ao invés de exercitar a liberdade, através da deliberação coletiva e da vivência através da cooperação.
Após analisarmos as práticas pedagógicas oriundas de Piaget e seu discípulo brasileiro, Lauro de Oliveira Lima, trataremos dos desdobramentos políticos resultantes do paradigma no qual está situada a obra construtivista e interacionista de Piaget. Nessa parte do trabalho, a responsabilidade será grande para nós, visto que as ponderações políticas, tanto de Piaget como de Lima, nunca tem tom de patrulhamento ideológico. Este não é o estilo destes autores. Por isso nos atraem, pois primam mais pelo desafio, pela provocação pedagógica, aquela que motiva o raciocínio crítico. Estes autores provocam, pedagogicamente, desequilíbrios conceituais que nos desconfortam e, justamente por isso, instigam uma reorganização do nosso pensar, de nossa visão de mundo.
Nos propomos, com certa audácia é verdade, a esclarecer os pontos que nos parecem fundamentais para estabelecermos uma pedagogia científica e ao mesmo tempo, consciente da necessidade de seu engajamento para alterar a estrutura política e econômica de nossa sociedade.

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